Musica e Canto Litúrgico - Parte III

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Relação entre música e rito


h) Canto das oferendas - ( Liturgia Eucarística) – Preparação dos dons. É canto que acompanha a apresentação dos dons do pão e do vinho, facultativo e tem verdadeiro sentido quando houver a procissão das oferendas para o altar. Diz a Instrução do Missal: “O canto das oferendas acompanha a procissão das oferendas e se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido colocados sobre o altar.” Portanto, não deve se prolongar, uma vez que acompanha o rito da procissão com os dons. Não é um canto para oferecer o sacrifício: a única oferta é Jesus Cristo e nós, “por Ele, com Ele e nEle”, em sacrifício vivo e santo; é, sim, canto para apresentar os dons e preparar a mesa do altar, após a liturgia da Palavra... Por isso, evitar os “cantos de ofertório”. Momento com muitas possibilidades, dependendo da solenidade ou da festa: um hino a Jesus Cristo, ao Espírito Santo, a Maria ou outro; um solo de órgão ou outro instrumental, um dueto vocal, o coro, além de responder cantando à oração de bênção: “Bendito sejais, Senhor Deus do Universo...” (Os momentos da preparação dos dons: a apresentação do pão, a apresentação do vinho, a mistura da água e do vinho, as outras oferendas – nossa partilha fraterna, e a oração sobre as oferendas. A apresentação dos dons é o pórtico de entrada da oferenda eucarística).

i) Sanctus, a aclamação do universo (A Oração Eucarística – Introdução: antífona, Cânon, oração eucarística) – Tem sua origem no Oriente, século II. O texto bíblico: um manto de retalhos, uma compilação de textos bíblicos – As duas primeiras aclamações, tiradas de Isaías, de sua visão dos anjos prostrados diante do altar... “Toda a terra está cheia de sua glória” Hosana. do hebraico Hosiah-na= dá a salvação, do salmo 118,25 – “Senhor, dai-nos a salvação!” Nas alturas = Deus que habita os altos céus... Bendito o que vem: Sl 118,26, que a tradição transformou numa aclamação messiânica: “Bendito O que vem em nome do Senhor!”, festejando e aclamando o Senhor, quando de sua entrada em Jerusalém. (Mt 21, 9). Portanto, o clima bíblico do Santo é de celebração gloriosa: teofania (manifestação de Deus), deve produzir expressão exuberante de alegria, aclamação jubilosa, unânime e solene com que se conclui o prefácio (que inicia a oração eucarística, e devia ser cantado).O santo, como o salmo e o Amém doxológico, é o principal dos cantos do Ordinário da missa. É a primeira aclamação da assembléia na prece eucarística, e como hino-aclamação, deve ser profundamente festivo e jubiloso, evocando a aclamação entusiasta do povo no dia de Ramos, a parusia gloriosa no fim dos tempos, ambiente de festa em que céu e terra se unem, reunindo num louvor cósmico e universal, os santos do céu e a Igreja da terra. Segundo o Apocalipse, o Sanctus é a aclamação da liturgia celeste. A assembléia deveria ficar à vontade e alegre, ao cantar esse louvor solene, sentindo-se intérprete fundamental desta aclamação, a primeira e mais importante a ser cantada pela comunidade. A melhor forma de cantar o Santo é a forma direta. Não deve ser substituído por “versões tão livres que não correspondam à doxologia bíblica.”

j) Aclamação Memorial – Esta aclamação, tal como a conhecemos hoje, foi inserida após o Vaticano II. Logo após a narrativa da Instituição, o presidente canta ou diz: “Eis o Mistério da fé!” e todos aclamam,de pé, como povo ressuscitado em Cristo: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte...” ou “Toda vez que se come deste pão...” ou ainda “Salvador do mundo...” , proclamando sua fé em tom aclamativo, fazendo memória do mistério pascal de Cristo – sua vida e mensagem salvadora, sua paixão e morte, ressurreição e ascensão ao céu, enquanto aguarda a sua vinda gloriosa. Tem, portanto, um caráter pascal, diferente daquele cunho dramático-devocional, que perdurou por séculos em nossa liturgia, com relação à narrativa da instituição, antes do Concílio Vaticano II. Não pode ser substituída por cantos de adoração ou benditos...Segundo Antonio Alcalde, em seu livro “Canto e Música litúrgica”, qualquer das três aclamações é válida. Mas recomenda: Advento e Natal – “Anunciamos, Senhor...”; Quaresma e Páscoa – “Salvador do mundo... “; Tempo Comum- “Toda vez que se come...”, mas a primeira é a mais usada nos domingos.(Também chamada de Anamnese, do grego= lembrança, comemoração).

k) Aclamação à doxologia final - O grande Amém - Ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Conclui a Oração Eucarística: Ao “Por Cristo, com Cristo, em Cristo...”, recitado ou cantado pelo presidente, enquanto eleva ao Pai com bastante expressividade o pão e o vinho transformados em Corpo e Sangue do Senhor, portanto em Eucaristia e ação de graças, a assembléia deve aderir e prorromper com o “Amém”, muito vibrante e solene, repetido várias vezes, cantando portanto, e podendo-se aplaudir. Este amém nos lembra nossa dignidade de povo sacerdotal, participando com ele da prece eucarística.Lembra-nos Santo Agostinho: “Seu amém é sua assinatura, é seu consentimento, é seu compromisso.” E São Jerônimo recorda-nos que esse Amém “ressoava como um trovão” nas basílicas romanas. É o movimento do universo rumo à eternidade de Deus, aquilo que o gesto da doxologia quer significar. “Toda a criação nasce do coração do Pai, como fruto do Seu amor. Toda a criação alcança a sua existência por Cristo, primogênito de toda criatura” (Col 1, 15). Toda a criação é habitada pelo Espírito que a enche do Seu amor.” (Lembra Pe. Busch – os pedaços da vida que vamos oferecendo, o amém da vida inteira entregue... AMEM! ALELUIA1) Nosso Papa João Paulo II- sua última palavra: Amém! SEMPRE devia ser CANTADO, pois é de fundamental importância. Há várias fórmulas no Missal.

l) Pai Nosso: a oração dos filhos – Chegou até nós por dupla tradição: Mateus 6, 9-11 e Lucas 11,2-4. São sete petições, das quais as três primeiras “celestes” – Deus, sua Vontade e seu Reino, e as quatro seguintes “terrestres” , pois dizem respeito a nós, humanos. O próprio Jesus nô-la ensinou, dirigindo-se a Deus como “Abba, Pai!”. Provavelmente foi introduzido na Missa com Santo Ambrósio, pelo século IV. A celebração eucarística é em si mesma louvor dos filhos ao seu Pai do céu. Pode-se cantar o Pai Nosso, numa melodia simples, em forma de cantilena, ou gregoriano. Sendo um texto bíblico, não deve ser substituído por paráfrases ou outros textos. O Pai Nosso na Missa não é conclusivo, e sim nos introduz ao rito da comunhão. Por isso não se diz Amém no final.

m) Embolismo - “Livrai-nos de todo o mal, Senhor!” – A palavra vem do grego (embolisma – peça aplicada a um vestido, a um desenvolvimento literário, a partir de um determinado texto). Assim, O Pai Nosso termina com “mas livrai-nos do mal.” E o embolismo prossegue, acrescentando-lhe “Livrai-nos de todo o mal, Senhor...”, o que parece remontar ao tempo de São Gregório, pelo século VI. Pergunta-se: seria necessário completar a palavra de Jesus?... Não basta o Pai Nosso?... E continua: “enquanto esperamos a vinda de Jesus Cristo, nosso Salvador... enquanto aguardamos a jubilosa esperança e a vinda gloriosa do nosso Salvador, Jesus Cristo.” O embolismo termina pela doxologia “Vosso é o reino e o poder e a glória para sempre” , que não faz parte do Pai Nosso de Mateus, mas foi inserida pelo século II, muito usada nas igrejas do Oriente, assim como pelos protestantes e anglicanos. O novo Missal, Romano integrando-a na nossa liturgia, une-se à tradição das outras Igrejas cristãs.

n) O rito da Paz – O Missal explica: “Os fiéis imploram a paz e a unidade para toda a Igreja e para toda a família humana; e saúdam-se uns aos outros, em sinal de mútua caridade.”(56) Consta de três elementos: a oração pela paz, a saudação, à qual a assembléia responde “O amor de Cristo nos uniu” e o gesto da paz, que é facultativo. Não faz parte da tradição litúrgica entoar-se um canto durante a saudação. Mas este sinal de fraternidade foi muito bem acolhido pelo povo, tornando-se um dos elementos de maior participação de toda a assembléia. Se há um canto durante a saudação da paz, que seja curto e leve, e não tenha um conteúdo de fraternidade e amizade apenas, mas um anúncio de que Jesus traz a verdadeira paz. “Ele é nossa paz.”(Ef 2, 34). Portanto, deve referir-se a Cristo, à paz do Ressuscitado. Não deve ofuscar nem invadir o canto que acompanha o rito da fração do pão, o “Cordeiro de Deus”. A questão está na seleção dos cantos apropriados para este momento... Cuidado para não abusar dos cantos de paz, deixando-os para os dias mais solenes, festas especiais, optando de preferência por cantar o Cordeiro de Deus, ao realizar a fração do pão.

o) Cordeiro de Deus - Foi introduzido na Missa pelo Papa Sérgio, no século VIII, inspirando-se nas palavras de João Batista, ao saudar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo...” , e com acentos de glória e louvor tirados do Apocalipse, onde o Cordeiro aparece com toda a sua majestade pascal. De início, um canto litânico, a invocação era repetida enquanto durasse o rito que ela acompanhava. No século XI as invocações foram limitadas a três, sendo que a última conclui com o “Dai-nos a paz!” O Missal Romano acrescenta: “Pode repetir-se o número de vezes que for preciso, enquanto durar a fração do pão.”(n.63) Compete ao povo/ animador do canto/ coral e não ao sacerdote, entoar este canto, acompanhando o partir do pão para a comunhão, preparando-se a assembléia para participar do banquete pascal do Cordeiro imolado e glorioso, ele nossa paz.

p) O Canto processional da Comunhão – Acompanha o rito da Comunhão, sendo o canto mais antigo da missa, aparecendo já em Roma no século IV. Inicialmente se entoava o Salmo 34 (33) “Provai e vede como o Senhor é bom. Feliz de quem nele espera, nada lhe falta, será feliz.” (Foi minha primeira composição, em 1969, e está gravada num simples compacto, que guardo como relíquia. Vale a pena registrar...) São Jerônimo nos fala deste canto, que com o tempo, foi cantado após a comunhão, o chamado postcommunio. Diz a Introdução Geral ao Missal Romano: “Enquanto o sacerdote e os fiéis recebem o Sacramento, tem lugar o canto da comunhão, canto que deve expressar, pela união das vozes, a união espiritual daqueles que comungam, demonstrar ao mesmo tempo a alegria do coração e tornar mais fraternal a procissão dos que vão avançando para receber o Corpo de Cristo. O canto tem início quando o sacerdote comunga, prolongando-se enquanto os fiéis comungam até o momento que pareça oportuno.” Um canto adequado à comunhão deverá corresponder ao sinal que está sendo realizado: a refeição fraternal do Corpo e do Sangue de Cristo, na fraternidade e alegria da participação do banquete eucarístico. Uma assembléia que caminha cantando em busca do dom gratuito e generoso do Pai que se senta à mesa com seus filhos e a todos alimenta com o Seu Filho Jesus, é símbolo de uma Igreja a caminho, alegre e festiva. Agora e aqui na terra, todos “convidados para a Ceia do Senhor; e um dia, jubilosos convidados para as Bodas do Cordeiro, o Cristo glorioso, no céu... Portanto, não são apropriados os antigos cantos de adoração ao Santíssimo Sacramento, nem cantos subjetivos e intimistas, de mensagem genérica. Na medida do possível, esteja em consonância com o evangelho proclamado: a Palavra se faz Eucaristia! É normal que os cantos de comunhão tenham, de alguma forma, a participação de toda a comunidade. A respeito do grupo dos cantores, que é sempre uma questão com muitas dúvidas, diz o Missal Romano: “O grupo dos cantores , segundo a disposição de cada igreja, deve ser colocado de tal forma que se manifeste claramente sua natureza, isto é, que faz parte da assembléia dos fiéis, onde desempenha um papel particular; que a execução de sua função se torne mais fácil; e possa cada um de seus membros facilmente obter uma participação plena na Missa, ou seja, participação sacramental. (n.312) Não há necessidade de multiplicar cantos durante o rito da comunhão: silêncio, alternância entre canto e instrumento, algum solo, repetição do refrão, convém mais, refletindo a unidade do mistério celebrado e da assembléia como um todo.

q) O canto após a Comunhão – O Missal Romano lembra a possibilidade de entoar um salmo, hino, refrão orante: “Terminada a distribuição da Comunhão, se for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio, recolhimento, interiorização. Se desejar, toda a assembléia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino. (n.83) É um canto facultativo,” não necessário, e às vezes nem desejável, quando já houve um canto de comunhão, com participação do povo, que se prolongou por algum tempo. (Estudo 79 da CNBB), não cabendo neste momento Oração pelas vocações, Ave-Marias, homenagens...(Homenagens e avisos são feitos após a Oração, antes da bênção final). Tem-se estimulado ultimamente em nossas igrejas o refrão bíblico, que pode ser entoado por um solista, ou grupo de canto, envolvendo aos poucos toda a assembléia, num clima orante, brotado do silêncio. Equilíbrio, bom senso, sensibilidade são sempre o melhor caminho para dosar canto e silêncio, levando a assembléia ao encontro com Deus.

r) Louvor Final – Não está previsto o chamado “canto final”, não faz parte da estrutura da missa, após a bênção e despedida do sacerdote, uma vez que com o “Ide em paz”, a assembléia está dispensada. Na saída do povo, o mais conveniente seria um órgão ou música instrumental, como acontece nas igrejas da Europa., ou uma bela intervenção do coro/ grupo de canto...Mas nosso povo de certa forma o incorporou ao seu repertório litúrgico, de modo que pode-se entoar um canto devocional – a Maria, ao santo padroeiro, ou outro, em vista da missão, de caráter mais livre.

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